A Ginga Cia de Dança voltou a se apresentar a cerca de um mês, após mais de dois anos de paralisação. Agora chega a Corumbá com o “Silêncio Branco”, no dia 30, às 19 horas, na Oficina de Dança. O espetáculo trata de um assunto tão difícil quanto urgente: a violência contra a mulher. Esta foi a escolha da Companhia para marcar os seus 35 anos de atividade.
Os desafios de representar com dança a violência contra a mulher pareciam enormes para Chico Neller, diretor e principal coreógrafo da Ginga Cia de Dança quando apresentou a proposta para os bailarinos, mas na prática foi ainda maior.
Depois de mais de um ano de pesquisa, conversas com autoridades, militantes dos Direitos da Mulher, estudos e ensaios, a Companhia volta aos palcos com seu mais novo espetáculo. Já esteve em Campo Grande e em Dourados e agora com única apresentação em Corumbá.
Em cena, o máximo está sendo exigido do elenco que precisou de muita preparação, inclusive, psicológica para dar vida aos personagens que encarnam. Momentos tão plásticos e tecnicamente lindos, dignos da mais importante Companhia de Dança do Estado, uma das principais e mais longevas do Brasil, quanto brutalmente fortes.
Ana Carolina Brindarolli, Brendon Feitosa, Diógenes Pivatto, Frantielly Icassatt, Maria Fernanda Figueiró, Patrícia Signoretti e Tanara Maciel entregam o máximo de energia e força cênica em cerca de uma hora de espetáculo.
Segundo Chico Neller, todos, inclusive ele, tiveram de se colocar frente a uma realidade muitas vezes mascarada que a sociedade prefere não ver, como um forte clarão tão intenso e presente que tudo cega. Por isso, a escolha do nome: Silêncio Branco.
“Buscamos conversar com as vítimas, tentando entender as estruturas e é tudo tão arraigado que ninguém se abre. Tudo é medo e vergonha. Senti o abismo da ignorância que a sociedade está mergulhada. As informações estão todas aí, consumimos tudo superficialmente como se não nos atingisse. Este trabalho me fez ver o quanto todos estamos ativos nesta engrenagem de violência e seguimos escolhendo nos manter nessa ignorância.”, desabafa Neller.
Para Diógenes Antônio, um dos mais experientes bailarinos da Companhia, colocar um homem violento em cena está sendo um dos maiores desafios de sua carreira, mas para ele a experiência é como uma dose de elixir. “A arte é curativa. Esperamos tocar o público e despertar, que seja, uma pequena uma transformação”, afirma.
A bailarina Patrícia Signoretti foi uma das inspirações para a montagem do espetáculo. A sua atuação em “Velado”, em parceria com Diógenes, despertou Chico Neller para o tema. “Todo o processo de montagem nos colocou frente a este horror. Mesmo como mulher a violência sempre me pareceu distante, a experiência cênica me mostrou que ela é uma teia e envolve tudo, um Silêncio Branco realmente. Estamos prontos para tocar o público”, provoca Patrícia.
Serviço
As apresentações serão em Corumbá, na Oficina de Dança de Corumbá | Rua Antônio João – nº90, no dia 30 de abril, às 19 horas.
A Ginga Cia de Dança tem o apoio da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), da Prefeitura Municipal de Corumbá, da Sucata Cultural e da Mercearia da Dança.