As chuvas que caíram na região nos últimos meses impediram que as obras de implantação do acesso rodoviário ao distrito de Porto Esperança, em Corumbá, avançassem conforme o cronograma; contudo, novas frentes estão se iniciando com a construção de duas pontes de concreto e do trevo com a rodovia BR-262. Os serviços de abertura da estrada com aterro de até 3,5 metros e das redes de drenagem estão 25% executados.
A sonhada estrada foi projetada distante da margem do Rio Paraguai levando em consideração as grandes inundações que ocorrem na região, conhecida como Nabileque. O antigo acesso, aberto pelos próprios moradores, margeia o rio, sem infraestrutura, e torna-se intransitável na cheia e quando chove. O solo é característico do Pantanal: argila saturada (acúmulo de água), que se apresenta úmida mesmo nas condições atuais de seca extrema no bioma.
A obra, autorizada em agosto do ano passado pelo governador Reinaldo Azambuja, vai tirar a pequena comunidade do isolamento – decretado na década de 1990, com a desativação do Trem do Pantanal pela antiga ferrovia Noroeste do Brasil, que corta o Estado de Três Lagoas a Corumbá e se interliga à malha paulista. A estrada de revestimento primário (cascalhada com resíduos de minério de ferro) terá 11,2 quilômetros, ao custo de R$ 20,7 milhões.
Obra emblemática
“Não consigo entender como uma comunidade de 100 anos não tinha acesso a serviços básicos”, afirma o governador, que, em sua visita ao Distrito, acompanhado do secretário Eduardo Riedel (Infraestrutura), colocou em operação a estação de tratamento de água e rede de distribuição para as 130 famílias que ali residem. “Sinto-me muito feliz por trazer essa estrada para se chegar à 262, que está tão perto, mas ao mesmo tempo distante”, completa.
Para o governador, a estrada representa o resgate de Porto Esperança, citando as dificuldades de acessibilidade do povoado nos tempos atuais. O distrito fica localizado na margem esquerda do Rio Paraguai e foi um dos principais entrepostos da ferrovia, pela qual se tinha aceso fácil a Corumbá, distante 80 km, ou a Miranda e Campo Grande. Hoje, o único caminho é o rio, até a ponte sobre a BR-262, onde o transporte para Corumbá é de ônibus ou carona.
“Quando alguém fica doente é um Deus nos acuda, pois nem todo morador tem condições de pagar o transporte pelo rio”, relata Natalina Mendes, presidente da associação de moradores. Uma viagem de ida e volta a Corumbá custa, em média, R$ 300,00, incluindo barco e ônibus. Com o fim do movimento do trem, o Distrito entrou em decadência e perdeu mais de 70% da população, que hoje vive do turismo (pesca) e dos programas sociais do governo.
O secretário estadual de Infraestrutura, Eduardo Riedel, considera o investimento em infraestrutura primordial para proporcionar qualidade de vida e alavancar o desenvolvimento de uma comunidade até então sem perspectivas. “É uma mudança completa, um resgate da sociedade histórica em Mato Grosso do Sul. A população merece, eles estão isolados, por conta da falta de acesso. Será uma transformação na vida desses moradores”, afirma.
Pontes e trevo
Mesmo com as dificuldades do terreno, com acesso precário e, muitas vezes, intransitável no período chuvoso, a obra de implantação da estrada segue avançando com os serviços de terraplenagem e redes de drenagem de águas pluviais. Da pista da BR-262 se avista a estrada cortando o horizonte em direção ao Distrito, que abriga um patrimônio arquitetônico: a Ponte Ferroviária Eurico Gaspar Dutra, construída de concreto e inaugurada na década de 1950.
O acesso a Porto Esperança terá uma interseção no cruzamento com a rodovia federal, a uma distância de 6,5 quilômetros da ponte sobre o Rio Paraguai (sentido Miranda-Corumbá), no Porto Morrinho. Dependendo ainda de liberação, por situar-se na faixa de domínio do gasoduto Bolívia-Brasil, o trevo terá sua obra iniciada nos próximos dias, informa o gerente da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) de Miranda, Lucas Ferreira Godoy.
Também estão em fase de construção as pontes de concreto sobre o Córrego Mutum e a Vazante da Margarida, com extensão, respectivamente, de 59,2 metros e 83,8 metros, com os serviços de sondagem, locação e desmatamento das áreas e montagem do canteiro da empreiteira. “São estruturas de longa duração, que vão promover o desenvolvimento, a segurança e a agilidade para aquela região, seja na cheia ou na seca”, diz Eduardo Riedel.