Alvos da Lava-Jato, caciques ‘repaginados’ miram retorno ao Congresso

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  • Post publicado:31 de janeiro de 2022

BRASÍLIA – Chamuscados pela Operação Lava-Jato, caciques da política nacional derrotados nas urnas em 2018 se preparam para voltar repaginados nas eleições deste ano. Para se distanciar de erros do passado e do desgaste acumulado, nomes como o ex-senadores Eunício de Oliveira (MDB), Delcídio Amaral (PTB) e Romero Jucá (MDB), o ex-deputado Cândido Vaccarezza (Avante) e o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) aproveitam o enfraquecimento da operação para apostar em reposicionamentos políticos e, em alguns casos, mudanças cosméticas na forma como se apresentam ao eleitorado.

Ex-líder do governo Dilma, Delcídio tenta virar uma espécie de “influencer” nas redes sociais, comentando de assuntos políticos e desempenho da seleção brasileira a séries e filmes de TV.

— Eu queria indicar duas séries pra gente curtir. A primeira é La Casa de Papel. (…) Simplesmente espetacular. E a outra é o resumo da Fórmula-1 de 2021.(…) Também imperdível — recomendou ele em vídeo postado, no início de janeiro, que encerra com a hashtag #euvoltei.

Após delatar esquemas de corrupção nas gestões Lula e Dilma, o senador deixou o PT e se filiou ao PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, passou a se dizer conservador e diz não ver problemas em dividir o palanque com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele pretende se candidatar à Câmara.

Sem barba e sem bigode

Ex-líder dos governos FHC, Lula e Dilma e ex-ministro do Planejamento de Michel Temer, Romero Jucá é outro que tem investido nas redes sociais. Tirou o tradicional bigode para dar uma rejuvenescida e passou a gravar tutoriais na internet para explicar “o que faz um prefeito”, “o que é uma emenda parlamentar”, “como funciona o orçamento”. Em vídeo divulgado na última semana, ele dá uma aula do “que fazer para ser um candidato nas eleições”.

Ao GLOBO, Jucá declarou que vê em 2022 uma “dinâmica diferente” e que está se preparando para se eleger ao Senado por Roraima.

— Cada eleição tem uma dinâmica diferente. A de 2018 foi baseada na antipolítica. A desse ano ainda está em aberto — disse Jucá, que chama de “factóides” os inquéritos de que foi alvo.

Colega de sigla de Jucá e ex-presidente do Senado, Eunício de Oliveira busca o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para disputar o governo do Ceará. Um plano B já traçado por ele é tentar vaga na Câmara dos Deputados, da qual aspira ser presidente.

alberto youssef lava jato
O doleiro Alberto Youssef, um dos alvos da primeira fase da operação, foi preso em 17 de março de 2014, em São Luís, no Maranhão, suspeito de comandar uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro Foto: Jorge William / Agência O Globo

Assim como Jucá e Delcídio, Eunício foi citado em delações da Odebrecht, mas viu o inquérito ser arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de 2020. Em 2018, ele perdeu a disputa ao Senado e deixou até a barba crescer para não ser identificado na rua, segundo conta hoje em tom bem humorado.

Agora, de barba feita, diz que a eleição deste ano vai passar a Lava-Jato a limpo.

Outro que voltou a respirar ares da política é o ex-deputado Cândido Vaccarezza, ex-líder dos governos Lula e Dilma. Ele vem dando expediente como médico ginecologista em clínicas de São Paulo desde a derrota nas eleições de 2018. Um dos fundadores do PT na Bahia, Vaccarezza agora defende uma alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro e articula sua própria campanha a deputado federal.

— A população tende a querer candidatos com experiência. Na última eleição, eu não fui muito bem porque teve toda a movimentação (da Lava- Jato) contra mim, de forma inadequada e ilegal — disse ele, que chegou a ser preso por cinco dias em 2017.

A lista de políticos que planejam nova chance em 2022 inclui o ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), citado em delações da Odebrecht, e que avalia se concorre ao Executivo estadual ou ao Congresso; e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), condenado no mensalão, com pena perdoada pelo STF em 2016.