Especialistas dizem que manter sambódromo e festas privadas traz riscos de contaminações

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A Pesada comemorou na avenida seus 50 anos de fundação / Foto: Clóvis Neto - PMC
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  • Post publicado:7 de janeiro de 2022
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O aumento dos casos de covid-19 e a epidemia de gripe no Brasil tornam a realização do carnaval deste ano um risco para a saúde pública, seja na folia de rua, nos desfiles de escolas de samba ou nas festas privadas. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo Estadão, que julgam o cancelamento do carnaval de rua anunciado em várias capitais um “remédio amargo, mas necessário”.

Segundo os especialistas, o cancelamento é justificado pelo cenário epidemiológico atual do Brasil, além da baixa testagem e da circulação da variante Ômicron – que tem se espalhado mais rápido do que outras variantes em todo o mundo. No entanto, reconhecem que a não realização do carnaval pelo segundo ano consecutivo tem prejuízos socioeconômicos e culturais altos para o País. Por isso, defendem debate amplo das autoridades para encontrar alternativas de apoio.

Na avaliação do infectologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o ideal é haver menos aglomeração possível enquanto houver aumento de casos e pressão sobre hospitais, cenário registrado em Estados como Bahia, Minas e Pernambuco neste início de ano.

“É muito difícil dizer qual o local ideal para o equilíbrio da balança, mas ainda assim tem que se encontrar um caminho com a máxima restrição de público”, disse.

As festas privadas estão mantidas na maioria das capitais brasileiras, apesar do cancelamento do carnaval de rua. Os desfiles de escolas de samba do Rio e de São Paulo também continuam autorizados. Nas duas situações, a existência dos protocolos sanitários, como passaporte de vacina e apresentação de teste para a covid-19, é utilizada como argumento para a realização dos eventos com segurança.

Entretanto, segundo o epidemiologista Fred Diaz Quijano, da Universidade de São Paulo (USP), os protocolos têm um grau de efetividade limitado, insuficiente para controlar a pandemia. Ele afirma que medidas como o passaporte de vacina e apresentação de teste negativo ajudam a evitar a transmissão do vírus, mas dentro de uma situação em que a pandemia está controlada.

“Numa situação de pico, o risco de transmissão é alto mesmo com os protocolos”, declarou. Nos cruzeiros, por exemplo, a fixação dessas medidas não impediu surtos entre o fim do ano e o início de janeiro.

O epidemiologista Roberto Medronho, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defende, por um lado, que os desfiles e as festas privadas também sejam cancelados por causa da explosão de casos e a circulação da Ômicron”, apesar do “cansaço na população depois de dois anos de pandemia”.

Para Medronho, as autoridades precisam iniciar um debate com a sociedade para avaliar até onde vale a pena correr risco para manter festas carnavalescas. Ligado a dois blocos tradicionais no Rio – o Simpatia Quase Amor e o Bloco do Barbas – e compositor de samba, Medronho propõe como alternativa adiar o carnaval para outra data e fazer uma festa fora de época. “Cancelar o carnaval é uma medida muito dura depois de dois anos de pandemia, por isso há de se ter um debate para encontrar alternativas”, disse.

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Em Corumbá, município ainda não se pronunciou sobre realização das festividades de carnaval

Realizar o desfile das escolas de samba sem público e diminuir o número máximo de pessoas em eventos fechados são outras possibilidades que podem ser discutidas até o final de fevereiro. “Tudo vai depender de qual o risco a sociedade quer correr para ter as festas”, continuou Medronho.

A alternativa debatida por alguns gestores para o carnaval de rua foi a realização de festas dos blocos em espaços fechados. No Rio, o prefeito Eduardo Paes (DEM) chegou a propor que eles saíssem em três pontos da cidade, nos quais seria possível realizar o controle de entrada com testes e passaporte de vacina, mas a ideia não foi bem aceita. Alguns blocos do Rio e de outras capitais discutem fazer festas privadas menores, com protocolos sanitários.

Para os especialistas, essa alternativa poderia ser segura se o cenário epidemiológico da pandemia melhorar até a data do carnaval deste ano, entre 28 de fevereiro e 1º de março. Entretanto, eles não acreditam que os casos caíam até lá. “A gente está começando a viver uma onda gerada pela Ômicron agora, que deve durar entre dois a três meses, pelo o que vemos no mundo”, declarou o epidemiologia Roberto Medronho.

Segundo a microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), o mais provável é que a realização do carnaval cause uma explosão de casos de covid-19 gerados pela variante Ômicron. Apesar da variante se mostrar menos letal do que outras, a cientista alerta que ela pode causar um efeito dominó na rede de saúde.

Na avaliação de Natalia, a variante tem capacidade de se disseminar de maneira tão veloz que, mesmo com a maioria dos casos sendo leves, muitos irão refletir em hospitalizações e pressão sobre leitos. “Uma explosão de casos vai levar muita gente ao ambulatório e à hospitalização. Pessoas vulneráveis vão morrer e o atendimento a outras doenças vai ficar comprometido. A gente não precisa correr esse risco”, avaliou.

Ela ainda ponderou que a preocupação socioeconômica do carnaval deve ser discutida com diversos agentes, mas que o prejuízo da realização da festa pode ser maior. Ela citou o exemplo dos Estados Unidos, onde o alto contágio da Ômicron nas companhias aéreas levou ao cancelamento de voos e paralisou o setor de turismo. “Tudo isso deve ser pensado de maneira que o gestor de saúde encontre o equilíbrio com outros setores.”

Protocolos precisam ser padronizados, afirma infectologista

Carlos Magno Fortaleza, professor da Unesp, defende uniformizar os protocolos adotados em eventos com grande público, como jogos de futebol e festas, para aumentar a eficácia do controle. Ele diz que o ideal seria haver o mínimo de aglomeração neste momento, mas, na impossibilidade da medida, os protocolos precisam de melhorias.

Um exemplo da falta de padronização é o risco de testes falsos negativo em eventos que exigem a apresentação do teste antígeno sem nenhum critério. Nesse tipo de teste, a sensibilidade para detectar a infecção por covid-19 é menor depois do quinto dia de infecção. A ausência de regras que evitem esse tipo de situação é o que pode induzir o público ao erro, disse Carlos Magno Fortaleza.

Algumas cidades, como Recife, São Paulo e o Rio de Janeiro, reavaliam os protocolos sanitários diante do aumento de casos. Nesta quinta-feira, 6, a secretária municipal de Saúde do Recife, Luciana Albuquerque, disse que na semana que vem já pode haver mudanças. Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciou que vai tornar o passaporte vacinal obrigatório para todos os eventos – antes, a medida era válida para eventos acima de 500 pessoas.

O epidemiologista Fred Diaz Quijano, da USP, afirmou que mais importante do que os protocolos é avançar com a campanha de vacinação. “Somente com a vacinação de crianças e a dose de reforços, teremos o controle da pandemia. Os protocolos são efetivos quando a gente compara com a ausência de protocolos, mas a sua capacidade depende do contexto epidemiológico.”

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