Irmãs centenárias celebram a vida juntas: “Não temos mau humor”

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Julieta e Juracy Feitosa (D) Chegaram em Brasília em 1960 (Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
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Juracy Feitosa Rocha e Julieta Feitosa é o que se pode chamar de irmãs inseparáveis. Vaidosas, Juracy leva consigo um colar de pérolas e gosta de passar os dias pesquisando conteúdos em livros, enquanto Julieta tem as unhas pintadas de rosa-choque. Nos aniversários, comemoram com festas repleta de amigos. As irmãs estão há 100 anos juntas, vindas do Espírito Santo, passando pela então capital Rio de Janeiro, até chegarem ao Distrito Federal. Hoje, Juracy completa 100 anos de vida e, em 29 de janeiro, Julieta festeja 104.

A história das duas irmãs é marcada pela união, e garantem: sem brigas. “Não temos mau humor. A gente tem que amar o próximo do jeito que ele é, aceitar a pessoa. Não adianta tentar mudar o que o outro é”, assegura Julieta. As duas irmãs vieram de Domingos Martins, interior capixaba. “Depois, fomos para Vitória. E de lá fomos para o Rio de Janeiro, onde ficamos cerca de 20 anos”, conta Juracy e acrescenta: “Graças a Deus, nosso pai não era tão atrasado, porque naquela época as mulheres não podiam estudar nem arranjar emprego”.

Juracy se formou em biblioteconomia e contabilidade e Julieta estudou turismo. Trabalharam por muito tempo na Câmara dos Deputados, a irmã mais nova como diretora da Biblioteca da Casa e a mais velha como diretora do Arquivo. “Fiz a faculdade (de turismo) com 54 anos, já em Brasília. E depois prestei concurso”, lembra Julieta. As duas chegaram à capital em 6 de junho de 1960. Com bom humor, enquanto ria, Juracy garantiu: “Posso sorrir, porque eu sou feliz, não estou fingindo”.

Longevidade

Até os 99 anos, Julieta ainda dirigia seu carro “e sem multa”, garante. “Só não dirijo agora porque o Detran (Departamento de Trânsito do Distrito Federal) não deixou”. Atualizada nas novas mídias, toda manhã ela faz palavras cruzadas pelo iPad. Começou a se interessar pelas tecnologias aos 80 anos e chegou a montar um manual para as pessoas que não sabiam utilizar as ferramentas e queriam aprender. Atualmente, se orgulha de ter um computador de última geração. “Ela tem conta do Nubank e paga as próprias contas”, destaca Daniela Rocha, 32 anos, neta de Juracy, advogada e moradora do Jardim Botânico.

Julieta utiliza o conhecimento digital para ajudar Juracy na composição de um livro, que é um projeto de uma década da irmã. “Estou reunindo a biografia do mentor de Chico Xavier, Emmanuel. O trabalho agora está nas mãos da FEB (Federação Espírita Brasileira). Por enquanto, o projeto está em fase de produção do acervo virtual, mas o principal do projeto já foi desenvolvido”, detalha Juracy.

As irmãs são preocupadas em ajudar o próximo. “Uma das cuidadoras que trabalhava aqui, estava aprendendo francês com a Juju (Julieta). E sempre que tem um caseiro ou uma cuidadora que não sabe ler, ela busca ensinar. (Julieta) Trabalhou como voluntária e professora em diversos locais”, conta Daniela. Com a experiência de um século de vida, Juracy destaca: “Não tenham medo de envelhecer. Eu não me sinto velha, não, o que eu faço eu gosto, não tenho insônia, por exemplo. Se fico sem dormir, vou trabalhar”. Julieta confessa que gosta de receber visitas e que a casa está sempre cheia de netos, bisnetos, amigos e familiares. Antes da pandemia, a família tinha o hábito, há quase 40 anos, de todo sábado se reunir para o almoço na casa das matriarcas.

Para as irmãs, o segredo para se viver bem é viver contente. “Com amor ao próximo, aceitando como as pessoas são”, reforça Julieta. A rotina das irmãs começa pela manhã com as palavras cruzadas, depois, tomam um banho de sol de até 30 minutos na varanda. As duas sempre se animam para receber algum amigo durante os almoços. Nos últimos 10 anos, adquiriram um novo hábito. Agora, a sala de entrada da casa tem duas paredes tomadas por lembranças. “A gente via a parede branca e decidiu colocar fotos nelas”, conta Juracy. Desde retratos da infância das duas, ainda no Espírito Santo, até os netos ou festões de aniversário de Julieta, a parede é repleta de comemorações familiares. “Dá até um quentinho no coração, né, vó?”, arremata Daniela.

Acolhimento

Neta de Juracy, Daniela reforça que a avó sempre fez questão de participar da sua vida de todas as formas. “Consigo lembrar da presença dela em cada fase da vida com seu amor, conselho e abraço. E tia Juju (Julieta) é toda coração. Não conheço quem esteve por perto e não foi abraçado por ela. Alegre, animada, inteligente e cheia de histórias interessantes para contar”, afirma.

Adriana Rocha Rodrigues, 36 anos, fisioterapeuta e moradora do Rio de Janeiro, é outra neta apaixonada por Juracy. “Ela é uma mulher forte, guerreira e amorosa ao mesmo tempo. Sempre oferece colo e palavras sábias, pronta para ajudar o próximo. Enquanto a Julieta é a minha tia avó, uma mulher de aço, batalhadora, muito inteligente, uma enciclopédia ambulante e apaixonada por flores. Usa o computador melhor do que eu e conta a história do Brasil em detalhes como ninguém”, diz. A fisioterapeuta confessa que o período da pandemia abalou os almoços da família. “Era algo marcante os encontros de sábado. Era sagrado a família se reunir para almoçar na casa da vovó! É o segredo para manter a união no ciclo familiar. Infelizmente, com a pandemia, tivemos que abortar esses encontros e hoje é o que elas mais sentem falta. Hoje as visitas são rápidas e distantes, sem os abraços quentinhos das vovós”, finaliza.

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