Investigação liga laboratório a Iunes e aponta uso de contrato público para angariar votos

No momento, você está visualizando Investigação liga laboratório a Iunes e aponta uso de contrato público para angariar votos
Justiça ordenou a suspensão do contrato firmado entre a prefeitura e o laboratório
  • Autor do post:
  • Post publicado:19 de novembro de 2021
FacebookWhatsAppTelegramCopy LinkMessengerPrintFriendlyShare

Corumbá (MS)- A ganancia em se manter frente ao poder executivo, levou a administração municipal, a arquitetar um esquema ardiloso de concessão de benefícios em troca de fidelização política em Corumbá.

É o que apontou a investigação policial que flagrou evidentes suspeitas de compra de votos realizadas por agentes públicos e parlamentares da cidade nas eleições municipais de 2020.

pagamento a mando marcelo 1
Conversa entre assessor e Secretário Municipal referente a pagamentos ordenados por Marcelo

Além da compra direta de votos, evidenciada em mensagens e provas recolhidas ao longo do inquérito, o uso da máquina publica foi um dos principais meios ativos utilizados por servidores que ocupavam cargos em comissão, e alocados estrategicamente pelo chefe do poder executivo, com a finalidade de privilegiar o acesso a serviços de saúde, realização de exames, aos eleitores do grupo político que se associou para cooptar eleitores.

Segundo apurou a reportagem do Folha MS, um dos mecanismos que mais chamou a atenção dos investigadores, foi a utilização de um contrato mantido entre a prefeitura municipal de Corumbá com o laboratório de análises clinicas Citolab, ainda em vigência no período pré-eleitoral.

CITOLAB é o nome fantasia da empresa de razão social “J B A IUNES”, inscrita no CNPJ 09.476.035/0001-76, sob a titularidade de José Batista Aguillar Iunes, irmão do atual prefeito de Corumbá Marcelo Iunes.

As investigações apontaram que o servidor que foi alvo de uma abordagem quando deixava o comitê político do candidato Marcelo Iunes, agia em conluio com outros servidores, incluindo um membro do alto escalão da Prefeitura, e uma secretária-adjunta da saúde, que atuava estrategicamente dentro da Central de Regulação, sendo responsável por “agilizar” e facilitar o acesso dos pacientes que fossem previamente determinados como sendo privilegiados do grupo político.

Todo esquema, era financiado com recursos públicos, mas em prol de um grupo seleto de pessoas que eram direcionadas pelos assessores do prefeito e ainda vereadores que integravam a base aliada.

Mensagens flagradas no celular apreendido pela Polícia Federal, comprovam o “modus operante” do grupo.

No dia 29 de maio de 2020, o servidor recebe um pedido vindo de uma pessoa para que o mesmo utilize de sua influência para conseguir uma vaga de internação para sua mãe.

O pedido é repassado para servidora que atua dentro da central de regulação e uma hora depois, retorna a mensagem confirmando já ter conseguido a vaga solicitada para internação.

pedido internacao 1
Esquema foi colocado em ação para arrumar vaga a eleitor que prometeu “gratidão”

Em outra situação, um vereador solicitou ao servidor urgência no atendimento de pedidos de exames que seriam para pessoas que chamou de “Pessoal Nosso”.

O servidor responde que naquele pedido especificamente, os exames que são realizados pelo laboratório CITOLAB são gratuitos, mas que outros que precisam ser realizados fora da cidade, o esquema cobraria apenas o “preço de custo”. Na mensagem, o servidor ainda revela que Marcelo (Prefeito) seria o dono do laboratório e a pessoa responsável por autorizar a realização dos exames.

VEREADOR: bom dia, (nome do servidor) eu preciso atender a mulher nesses dois exames pô, é pessoal nosso aí, meu e do Marcelo. Tenta fazer esse agendamento aí e me dá uns dias pra pagar, organiza isso daí.

SERVIDOR:  “(Nome do Vereador), é, então, como eu falei pra você, esse é o padrão que a gente faz pra todos entendeu, até para as pessoas assim que são já eleitor de Marcelo há muitos anos, a gente já até explica como que funciona. Os exames que fazem lá no laboratório dele, ele autoriza e não cobra nada, esses exames que são especiais que vai pra fora, ou seja, coleta o sangue da pessoa aqui e manda fazer lá no Paraná, que que ele cobra? para ajudar, preço de custo, entendeu? O preço que cobram dele lá, ele não coloca um Real em cima, entendeu? É, aí essa questão lá do financeiro, é, a gente só passa o valor. Aí você teria que ir lá no laboratório, tá, eu vou falar com a moça, e aí você falou que quer fazer no cartão né, aí você vai lá e passa o cartão lá, entendeu? Eu vou falar com a moça aqui aí eu vou te enviar o nome dela e na segunda-feira você fala direto com ela lá, tá bom? Ou você manda algum assessor seu, tá bom? Eu vou conversar com ela agora aqui e já te dou um retorno aí!”

pedido vereador
Pedidos para agilidade na realização de exames eram encaminhados por vereadores aliados

Já no período eleitoral, o vereador em questão solicita ao servidor um novo exame médico para terceira pessoa, que o atende, passando as orientações devidas para a realização. Ao contrário do que ocorre com a grande maioria da população, que precisa aguardar um longo período para realização de exames, o procedimento solicitado ocorre no dia seguinte, 28/08/2020.

Os pedidos se repetem sempre da mesma forma, tendo o servidor que teve o celular apreendido pela Polícia Federal durante a campanha, como mediador entre vereadores que participavam do esquema e potenciais eleitores, junto a servidora que atuava dentro da central de regulação (Casa Verde), para agilizar os favorecidos que passavam a ser atendidos sem passar pela fila de espera a que se submetem a maior parte da população.

“Os exames são pagos normalmente pela prefeitura com os recursos públicos, mas são entregues à população a título de “favor” ou “caridade” por parte dos agentes públicos, os quais solicitam apoio político ao povo em contrapartida.”, conclui o relatório da Polícia Federal sobre os fatos.

Secretária-adjunta atuava como cabo eleitoral

A troca de atendimento por apoio político ficou evidenciada ainda, durante a perícia técnica realizada em celular apreendido pela Polícia Federal com o servidor comissionado da prefeitura, em que cinco vídeos foram encontrados. Encaminhados pela então secretária-adjunta da Saúde, colocada para atuar dentro da central de regulação.

exame marcado
Após ser acionada, Secretária-adjunta entrava em ação e rapidamente enviava a marcação dos exames e procedimentos solicitados pelo grupo

Nas imagens, as pessoas eram orientadas a fazer uma declaração verbal de apoio ao atual prefeito Marcelo Iunes e no final do vídeo, mencionar que autorizava a reprodução do mesmo em campanha eleitoral.

Para PF, ficou evidente a atuação da secretária-adjunta, a quem deveria ser somente uma técnica da saúde, na qualidade de cabo eleitoral de Marcelo Iunes e vereadores aliados, atuando de dentro da estrutura pública em busca de apoio político.

FacebookWhatsAppTelegramCopy LinkMessengerPrintFriendlyShare