PF encontrou relação com suposto pagamento de propina em pelo menos 11 viagens de irmão de Iunes à Capital

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Imagem anexada ao inquérito mostra Márcio Iunes e Edson Panes em Campo Grande | Reprodução
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  • Post publicado:4 de novembro de 2020

Diligências da Polícia Civil que antecederam a deflagração da Operação Offset, no início deste mês, detalham como ocorreria a distribuição de propina paga por empresas contratadas pelo município de Corumbá. As investigações reforçam que o dinheiro em espécie seria distribuído imediatamente após a chegada de Márcio Iunes, irmão do prefeito Marcelo Iunes, à Corumbá, em retorno de viagens realizadas a Campo Grande, onde a propina seria coletada. O “centro de distribuição” também seria a residência de Márcio.

É o que fica caracterizado em trecho do inquérito policial. Nele, é descrito que, ao retornarem de Campo Grande na noite de 16 de julho deste ano, Márcio Iunes e o ex-secretário de Segurança Pública de Corumbá, Edson Panes, deslocaram-se para a residência de Márcio. Naquela ocasião, mais dois veículos chegam no mesmo instante e seus condutores também adentraram no imóvel, passando pouco tempo e saíram carregando bolsas ou pacotes.

Nesse dia, segundo o documento, o condutor de um dos veículos apresentou conduta suspeita, tendo permanecido apenas cerca de 10 minutos na residência. Na sequência, deslocou-se até endereço na Rua Tiradentes. Em mais um deslocamento, o homem dirigiu-se a imóvel onde funciona uma loja de conveniência, na região central de Corumbá. Para a PF, o condutor seria um nomeado a cargo de assessor com vínculo junto à Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos de Corumbá, comandada por Ricardo Ametla.

Vale lembrar que, na data que a Offset foi deflagrada, a PF confirmou ter apreendido R$ 44 mil em espécie apenas na cidade de Corumbá, sendo R$ 15 mil e R$ 10 mil em residências não especificadas e R$ 19 mil em uma loja de conveniência.

recolha propina
Irmão de Marcelo Iunes e ex-secretário de segurança pública foram monitorados em pelo menos 1

Encontros suspeitos

O segundo veículo que estacionou sobre o suposto “centro de distribuição” em 16 de julho está registrado em nome de uma familiar de Márcio e Marcelo Iunes. Conforme o documento, o veículo estacionou nas imediações apenas dois minutos após Márcio e Edson desembarcarem. Do veículo, desceu uma mulher, que adentrou o imóvel. O relatório detalha que, naquela ocasião, não houve vigilância em relação ao veículo.

Todavia, investigações realizadas acerca de uma segunda viagem de Marcio Iunes a Campo Grande – com retorno à Corumbá na noite de 23 de julho do mesmo ano – a participação de mulher muito semelhante a esta familiar, a proprietária do veículo, foi relatada. Nesse dia, a mulher e uma pessoa não identificada saíram da residência de Márcio portando um envelope e uma bolsa, deslocando-se em seguida para imóvel na Rua São Francisco que seria residência dela.

No dia seguinte, a PF registrou mais encontros suspeitos, durante toda a tarde e início da noite, também na residência de Márcio: foram verificadas as presenças de Edson Panes e dois assessores municipais em cargo comissionado, além de Ricardo Ametla e mais um familiar de Márcio e de Marcelo Iunes.

Já no dia 25, os encontros seguiram acontecendo, inclusive, com a presença de Alexandre Frozino, apontado como o proprietário de fato da Gráfica Solux e visto em diligências realizadas em Campo Grande no dia 16 daquele mês. Acompanhado de Gustavo Kroll, Frozino deixou a residência de Márcio portando objeto considerado suspeito pela Polícia Federal. Eles utilizavam o mesmo veículo registrado no encontro em Campo Grande do dia 16 daquele mês, uma Pajero.

Em outra ocasião, já no mês de agosto, Alexandre Frozino e Gustavo Kroll retornaram à Corumbá, onde realizaram visitas a obras de engenharia contratadas pela Prefeitura. Para tanto, a dupla utilizou uma Toyota SW4, registrado em nome de Danielle de Oliveira. Para a PF, o cruzamento dos dados de propriedade desta SW4 reforçam indícios que que a Gráfica Solux teria pago propinas a Márcio Iunes em Campo Grande. Isso porque outro relatório constatou que houve saques bancários realizados por Danielle de Oliveira das contas da Solux, segundo levantamento feito junto ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Viagens suspeitas

Operação Offset: Investigação detalha como seria distribuição de propina em Corumbá
Parte do dinheiro vivo apreendido pela PF durante a Offset | Foto: Divulgação | PF

Relatório de Análise de Polícia Judiciária apontou que de 31 viagens realizadas por Márcio Iunes, de Corumbá a Campo Grande, 11 puderam ser associadas temporalmente com os eventos de pagamento da Prefeitura de Corumbá à Gráfica Solux, ou, ainda, com saques em espécie realizados por Danielle Oliveira.

“O analista policial identificou onze viagens que podem ser associadas temporalmente com eventos de pagamentos da Prefeitura de Corumbá à empresa investigada, ou ainda com saques em espécie em sua conta feitos por Danielle de Oliveira”, traz trecho do relatório.

Verba federal colocou PF no caso

Segundo o inquérito policial, as empresas investigadas teriam pago propina financiada com recursos decorrentes do CFEM, contrapartida paga por mineradoras à União e repassada aos Estados e ao município sede, pela exploração dos recursos minerais. Paga com este recurso, a Gráfica Solux foi um dos alvos dos mandados de busca em apreensão em Campo Grande, após as diligências suspeitarem do envolvimento de Alexandre Frozino e Gustavo Kroll no apartamento de Márcio Iunes em Campo Grande.

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Denúncia feita na PF aponta pagamento de propina desde posse de Marcelo Iunes em 2017

Neste contexto, vale lembrar que dos R$ 7,5 milhões em contratos investigados da Solux, pelo menos R$ 2,2 foram financiados com o CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) entre 2018 e 2020. A propósito, foi o uso de dinheiro da União, que colocou a Polícia Federal no caso. O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) é quem tem responsabilidade sobre investigações assemelhadas em casos que não envolvam dinheiro da União.

Com os mandados da Justiça Federal, foram apreendidos com os suspeitos celulares, computadores e mídias removíveis, além de pelo menos R$ 50 mil em dinheiro vivo. Por meio de nota, o município pontuou que a Prefeitura não foi formalmente comunicada “de nenhum ato da investigação da Polícia Federal, denominada Operação Offset” e que por tal razão aguarda as investigações.

“Somente se pronunciará após ter pleno conhecimento do inquérito penal em questão, reiterando que tudo isso trata-se ainda de fase inicial de investigação policial”, conclui a nota. A reportagem não conseguiu contato com Alexandre Frozino, Gustavo Kroll e Danielle de Oliveira, citados no relatório da PF. O Jornal Midiamax também tenta contato com Márcio Iunes e reitera que o espaço segue aberto para manifestação aos citados.