A PF (Polícia Federal) já coletou provas suficientes para indiciar fazendeiros do Pantanal de Mato Grosso do Sul suspeitos de provocarem alguns dos focos que assolam o bioma há várias semanas. Segundo o portal UOL, quatro produtores rurais foram identificados como responsáveis por incêndios na Serra do Amolar.
Peritos analisaram imagens de satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e até da Nasa (do inglês, Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço) e encontraram indícios de ação humana. Depoimentos de trabalhadores rurais e moradores da região complicaram ainda mais os fazendeiros.
Os focos surgiram quase que ao mesmo tempo, em 30 de junho, em quatro propriedades rurais próximas ao Rio Paraguai. Cabe ao MPF (Ministério Público Federal) denunciar os suspeitos, mas o órgão concorda com a PF de que a ação foi orquestrada.
Testemunhas disseram aos agentes que os produtores rurais ordenaram dias antes a retirada de todas as cabeças de gado dos locais onde começaram as queimadas.
Outro lado
Em depoimento à PF, os quatro fazendeiros negaram o crime. A corporação não informou os nomes deles. “Vamos provar com as imagens de satélite da própria polícia que o fogo não começou na fazenda do meu cliente. Mas infelizmente não tive ainda acesso ao inquérito”, afirmou o advogado Newley Amarilha, que defende Ivanildo Miranda, proprietário da fazenda Bonsucesso, uma das quatro propriedades em que as queimadas ocorreram.
Armas e munições foram apreendidas em uma das propriedades. O delegado Daniel Rocha disse que a análise das imagens de satélite ajudaram a desencadear a operação contra as queimadas criminosas.
Quando sobrevoamos a região, vi uma imagem que jamais podia imaginar. Um mar de água doce transformado em fumaça e fogo”, disse Rocha, que aguarda laudos da perícia e transcrição de conversas telefônicas para concluir o inquérito.
“Fizemos a perícia nas propriedades e temos indícios de que os incêndios foram provocados a fim de criar novas áreas de pastagens”, ressaltou o delegado.
Os proprietários devem ser indiciados por danos às áreas de preservação permanente e unidades de conservação, incêndio e poluição. As penas previstas na legislação, somadas, podem chegar a 15 anos de reclusão.
Mais focos
Os incêndios continuam a causar prejuízos três meses depois de começarem. Na quarta-feira (23), os focos alcançaram o Parque Nacional do Pantanal e uma área que liga a Serra do Amolar ao Parque Encontro das Águas, no Mato Grosso, considerado o maior refúgio de onças pintadas do mundo.
“Infelizmente quatro felinos ficaram com as patas feridas”, frisou o diretor de relações institucional do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Ângelo Rabelo, que é tenente-coronel reformado da PMA (Polícia Militar Ambiental) e atua na frente de combate ao fogo.
As queimadas atingiram também a região das grandes lagoas na fronteira do Brasil com a Bolívia.
Outra conclusão a que os peritos da PF chegaram é que os incêndios acabaram destruindo as matas ciliares que protegem o rio Paraguai e seus afluentes. Desde que tiveram início, as queimadas já destruíram 30 mil hectares de mata na região.
Essas suspeitas vieram à tona na semana passada, quando a PF deflagrou a Operação Matáá (“fogo” na língua indígena guató). Os agentes federais apreenderam os aparelhos celulares de dez fazendeiros em Campo Grande e em Corumbá.
Investigações locais
Por sua vez, as polícias Civil e Militar do Estado chegaram à mesma conclusão que a PF: de que houve ação humana nas queimadas ocorridas nas fazendas da Nhecolândia, área central do Pantanal. A polícia aguarda o laudo final para aplicar multas e indiciar os fazendeiros.
“A perícia deixou claro que o incêndio teve origem nas fazendas e foi motivado pelo homem e pela seca”, afirmou o tenente da PM Anderson Ortiz, que coordenou as vistorias nas fazendas.
Esses fazendeiros investigados da Nhecolândia e da Serra do Amolar têm uma característica em comum: são investidores ou herdeiros egressos de outras regiões do país. Para pesquisadores, a mudança do perfil dos donos das fazendas acabou prejudicando a boa relação entre a natureza e o agronegócio no bioma.
“O pantaneiro segue o ciclo natural das cheias, quando as cabeças de gado são retiradas das partes alagadas. Os pantaneiros tradicionais não vão queimar mato para plantar pasto porque não têm nem dinheiro para comprar o adubo”, afirma Arnildo Pott, professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e doutor em ecologia vegetal na Universidade de Queensland (Austrália), que trabalha há mais de 40 anos no Pantanal.