Sophia, Laís, Lívia e, de repente, Giovana. Quatro meninas que causaram uma reviravolta na vida de uma mãe até o último segundo antes do fim do parto. Michelle Freitas, uma cozinheira de 38 anos que já tem três filhos passou os sete meses da gestação acreditando que teria mais três bebês. Até que, na hora do parto, descobriu a quarta filha.
“Eu estava anestesiada, quando a médica falou que tinha mais uma, eu só disse ‘ta bom’, e fui dormindo. No quarto, quando minha filha me falou, eu não acreditava. Eu perguntava ‘quatro, Ana Flávia?’ E ela, ‘quatro, mãe!’”
Residente na comunidade Viver Melhor, em Manaus, Michelle, que já tem filhos de 20, 18 e 11 anos, fez o acompanhamento do pré-natal na Policlínica Codajás e na Unidade Básica de Saúde (UBS) Santo Antônio. Com o teste positivo em mãos, levou o segundo susto ao realizar o ultrassom.
“O médico viu uma e disse que tinha outra. Eram gêmeas, eu achei bom. Depois ele perguntou se eu estava com algum acompanhante, e pediu para minha irmã entrar. Foi quando ele disse que eram três e eu fiquei desesperada. Eu achei que ia morrer, comecei a chorar, minha irmã falou ‘calma, vai dar certo’. Depois eu já queria ver a carinha delas.”
“De repente… o susto”, conta enfermeira
A equipe médica se preparou para a cesárea das trigêmeas e também levou um susto ao achar a quarta “escondida” na barriga da mãe. Giovana nunca tinha aparecido em nenhum dos ultrassons durante a gravidez.
“Todos nós da equipe já ficamos bem surpresos quando internou uma paciente grávida de trigêmeos. A paciente ficou uns dias internada, em tratamento clínico … eu estava em casa, era um final de semana, quando a enfermeira do Centro cirúrgico me ligou dizendo que as trigêmeas iam nascer… A equipe preparou para receber as três. Pedi pra equipe que me avisassem quando nascessem. E, de repente… o susto: a enfermeira liga, e diz ‘não eram três, eram quatro'”.
“A equipe já estava toda eufórica, foi quando já no momento da revisão do útero viu que tinha mais um bebê. Veio uma emoção porque três já é pouco comum. Quatro então..”, conta a gerente de enfermagem, Suellen do Nascimento Barbosa.
As quadrigêmeas nasceram no dia 27 de junho. Devido ao parto prematuro, passam por acompanhamento na Maternidade Balbina Mestrinho, na capital amazonense, onde a “caçula” Giovana segue internada na UTI. Segundo a mãe, a pequena nasceu com 969 gramas, e precisa chegar a 1,3kg antes de ser encaminhada para outra ala do hospital. Com 1,8kg poderá ir para casa encontrar as irmãs.
Católica, Michelle acredita que a chegada das quatro meninas foi uma benção divina. “Ainda mais com a Giovana, desse jeito, que a gente nem sabia. Deus tem algum propósito pra mim, para me dar essas quatro meninas lindas”, desabafou.
Ela levou o primeiro susto quando descobriu que estava grávida aos três meses. “Eu estava com depressão, síndrome do pânico, e minha mãe dizia que eu estava grávida. Mas como, se eu tomava remédio [pílula anticoncepcional]? Eu sentia umas cólicas e fomos na maternidade fazer o exame. Deu positivo”, contou.
A mãe conta que realizou cerca de oito exames de ultrassonografia ao longo dos sete meses. E em nenhum momento foi informada de que eram quatro bebês. Nem mesmo quando ouviam os batimentos cardíacos.
“Apareciam os batimentos dela no lugar de uma das três. Quando ia fazer o exame, uma delas sumia e aparecia o da Giovana”, revelou.
Escolha de nome “surpresa”
Para escolher os nomes das meninas, Michelle disse que “teve briga”. “Era pra ser Laís, Luna e Lívia, mas o pai delas não quis porque Luna era nome de cachorro, tinham dois cachorros na rua que chamavam Luna. Ele escolheu Sophia”, explicou a mãe, que não esperava que iria precisar de mais um nome para as filhas.
Na sala do parto, com a chegada da quarta bebê, optou por homenagear a médica que realizou a cirurgia, registrando a filha com o nome de Giovana.
Doações para a família
Já com três filhos, a família demorou para se preparar para a chegada de três crianças não foi tarefa fácil. Com uma gravidez inesperada e considerada de risco, Michelle disse que sentiu muitas dores durante a gestação, não se alimentava bem e passava noites em claro.
“Eu pensava que nunca ia acabar aquelas dores que eu sentia. Não via a hora de inteirar 8 meses pra elas nascerem, mas vieram antes, com 32 semanas.”
Outro desafio, era montar um enxoval para as meninas que estavam prestes a nascer. Com a solidariedade dos vizinhos que se sensibilizaram com a situação, Michelle conseguiu arrecadar doações de fraldas e outros itens necessários. Em meio a pandemia do novo coronavírus, uma carreata foi realizada para substituir o tradicional chá de bebê.
Depois da descoberta da Giovana, a filha mais velha de Michele compartilhou a história nas redes sociais para que mais pessoas ajudassem. “Graças a Deus as pessoas estão me ajudando muito com coisas que eu não dava importância, como sabonete, shampoo. E doam fraldas também. Agradeço muito às pessoas por isso”, completou.
Agora, com sete filhos, a cozinheira afirma que terá que deixar de trabalhar para cuidar das crianças. O marido trabalha como carpinteiro e atualmente presta serviço no município de São Gabriel da Cachoeira no interior, a mais de 900 km de Manaus.
Apesar da ajuda dos familiares, a família precisa de recursos para arcar com os novos gastos. Para isso, uma “vaquinha” foi criada na internet para arrecadar doações para as “quadrigêmeas de Manaus”, que já têm um perfil nas redes sociais.
Hospedada na casa da mãe, no bairro Compensa, Michelle pretende voltar para a casa após o tratamento das filhas. “Vou passar meu resguardo aqui. Até os quatro meses vou fazer acompanhamento na maternidade e em janeiro vou voltar para o Viver Melhor. Vou dar tudo de mim. Eu não vou mais trabalhar, e minha vida vai ser pra elas”, acrescentou.