Coronavírus: de celulares a eletrônicos, indústria brasileira já teme falta de componentes chineses

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Pesquisa da Abinee afirma que 52% do setor já tiveram algum problema no recebimento de materiais vindos da China Foto: Paulo Whitaker / Reuters
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  • Post publicado:7 de fevereiro de 2020
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A indústria brasileira começa a sofrer impactos concretos da epidemia de coronavírus. Depois de amargar uma desaceleração no ano passado, as fábricas instaladas no país podem ter o desempenho do primeiro trimestre afetado por problemas no recebimento de componentes e matérias-primas da China, o maior parceiro comercial do Brasil.

Fabricantes de eletroeletrônicos já relatam problemas no recebimento de componentes. Montadoras de veículos e representantes do setor farmacêutico estão em alerta.

Do total de insumos importados – que servem de matéria-prima para os produtos que são feitos nas indústrias nacionais – 20% vêm da China.

“A participação das importações chinesas é relevante. Se os embarques são interrompidos, pode haver atrasos ou pausas na produção brasileira” diz Marcos Casarin, economista-chefe para América Latina na Oxford Economics.

De acordo com sondagem da Abinee, associação brasileira de fabricantes de produtos eletroeletrônicos como celulares e TVs, 52% do setor já tiveram algum problema no recebimento de materiais vindos da China.

A pesquisa mostra que 22% dos associados, que participaram do levantamento, disseram que devem paralisar a produção em algum momento nas próximas semanas por falta de componentes.

“Estamos avaliando a situação de perto” diz o presidente da Abinee, Humberto Barbato, lembrando que a China responde por 42% dos componentes eletrônicos importados pelo setor.

Segundo José Salvino, presidente do SindMetal (Sindicato dos Metalúrgicos) de Jaguariúna, em São Paulo, a empresa Flextronics, que fabrica celulares da Motorola, enviou uma carta alertando sobre o problema. De acordo com Salvino, o setor pode ter 80% das atividades paralisadas:

“A medida afeta quase todas as linhas de produção. Desde a semana passada estamos aguardando parecer da multinacional chinesa para ver se há possibilidade de contágio através das peças importadas”.

Risco de desabastecimento

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Surto do novo coronavírus na China prejudica o comércio exterior com o país asiático Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

A Anfavea, associação brasileira da indústria automotiva, acompanha “24 horas por dia” os efeitos da epidemia de coronavírus na China sobre a cadeia produtiva de autopeças. Apesar de a doença ter interrompido a operação em fábricas em Wuhan – considerada a “Detroit Chinesa” pela concentração de montadoras – e em outras áreas da China, por ora não há risco de desabastecimento de peças no Brasil.

“Estamos monitorando o tema não só das peças que importamos, mas também dos fornecedores dos nossos fornecedores. Hoje não temos problema (de desabastecimento)” diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

Estudo da consultoria Oxford Economics vê o Brasil como um dos países com maior risco de desabastecimento na hipótese de a epidemia prolongar o período de fechamento de indústrias na China.

A importação de placas solares da China já começa a ser afetada. Segundo Daniel Pansarella, diretor da fabricante chinesa de painéis Trina, os embarques têm atrasos de até duas semanas. Para ele, a falta de produtos no mercado brasileiro vai depender da extensão da crise no país asiático:

— Muitos clientes têm programação trimestral, por isso os estoques maiores. Não vejo o varejo com falta de produto. Quem pode ter falta de material no primeiro momento são distribuidores menores, que não têm estoques.

A relevância de fornecedores chineses no Brasil só é batida pela importância deles para a indústria de países da Ásia e da Oceania, cujas cadeias logísticas estão intimamente conectadas à China. Nos primeiros lugares da lista estão Vietnã (com 41% dos bens intermediários comprados dos chineses) e Filipinas (30%).

— A produção industrial brasileira, tal como a da maioria dos países, depende muito de produtos intermediários (insumos) chineses. Há uma integração nas linhas de produção em vários setores — diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, para quem a queda deve ser maior em eletrônicos e têxteis.

O economista avalia ainda que o coronavírus tem potencial de reforçar a perda de força da indústria brasileira ocorrida no ano passado, quando recuou 1,1% em relação a 2018.

O risco de desabastecimento é maior entre componentes de maior valor agregado que chegam por transporte aéreo da China. O estoque no Brasil dá conta para os próximos 15 dias, nas contas da Eletros, associação dos fabricantes de eletrônicos da linha branca (geladeira), marrom (TV e som) e portáteis (secadores de cabelo, ventiladores, entre outros). Entre os insumos que chegam por navio, o estoque nacional é capaz de abastecer as indústrias por 90 dias.

“Preocupa a instabilidade na cadeia logística de importação de insumos da China” diz José Jorge do Nascimento Junior, presidente da Eletros.

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,Na fabricante de eletrônicos Multilaser, com portfólio que vai de celulares a aspiradores, boa parte da produção depende dos fornecedores chineses. Mensalmente as duas fábricas da Multilaser, em Extrema (MG) e Manaus (AM), produzem 2 milhões de produtos. Cada um tem, em média, 200 componentes do país asiático.

Na fabricante de eletrônicos Multilaser, com portfólio que vai de celulares a aspiradores, boa parte da produção depende dos fornecedores chineses. Mensalmente as duas fábricas da Multilaser, em Extrema (MG) e Manaus (AM), produzem 2 milhões de produtos. Cada um tem, em média, 200 componentes do país asiático.

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