“Aos 9 anos, conheci Adauto, que logo se tornou meu namorado. Começamos namorar escondido e, aos 13, me casei. Com ele, tive minha primeira filha, Nathália. Dois anos depois de ela nascer, no entanto, meu marido sofreu um acidente e morreu. Tinha 15 anos e já era viúva. Fui à luta. Depois de quatro anos sozinha, conheci o Jesse. Com ele, tive mais dois filhos, Jessica e Lucas Gabriel. Acontece que, após quatro anos de casamento, ele saiu de casa para cuidar do pai e não voltou mais. Um ano depois, conheci Eduardo, um cantor cinco anos mais novo que eu. Nos apaixonamos loucamente e logo fomos morar juntos na minha casa. Tudo ia bem até o dia em que eu estava trabalhando e uma amiga me ligou para contar que havia acabado de ver meu marido e minha filha mais velha, Nathália, abraçados na rua. Fiquei intrigada, mas achei que poderia ser um carinho normal entre padrasto e enteada.
Dias depois, essa mesma amiga foi à nossa casa e flagrou os dois na minha cama assistindo TV. Eu estava fora, trabalhando. E, claro, ela me contou novamente o que viu. Na mesma semana, peguei um papel escrito pela minha filha, onde tinha o nome dela, do meu marido e dos meus filhos menores. Mais desconfiada do que nunca, perguntei a ela porque o meu nome não estava lá também. E aí começou a briga. Brigamos e a coloquei para fora de casa. Ela foi morar com a minha mãe, no mesmo quintal. Quando meu marido chegou, tivemos uma baita discussão também e joguei tudo na cara dele. Cínicos, ambos não confessaram nada.
Na semana seguinte, tive um sonho revelador com uma cobra em cima de mim e acordei assustada – segundo os mais antigos, isso é um sinal de traição. Procurei Eduardo e ele não estava. Me levantei na ponta dos pés e, pela janela, vi ele e Nathália conversando no quintal. Voltei pra cama e fingi que estava dormindo. Quando ele chegou no nosso quarto, se deitou ao meu lado e lhe perguntei onde estava. Ele disse que estava no banheiro. Passei, então, a ficar ainda mais ligada em tudo que ele fazia. Na época, minha filha tinha apenas 15 anos, mas já era grande e vistosa, mulherão. Eu estava com 30 anos e Eduardo, com 25.
Até que, não aguentando mais viver nessa incerteza, joguei todas as minhas angústias e desconfianças em sua cara e o expulsei de casa. Dias depois, descobri que minha filha estava grávida dele. Me separei dele de vez e o fiz prometer que nunca iria deixar faltar nada para minha filha e seu bebê. Eles alugaram uma casa próxima à minha e foram tentar ser felizes. Pedi que esquecessem tudo que passou e garanti que faria o mesmo. Abriria mão de tudo para ver minha filha feliz.
David, nasceu no dia primeiro de agosto de 2009. Fui a primeira pessoa a ver meu neto e a pegá-lo no colo, estava ao lado de Nathália durante todo o parto. Eduardo só apareceu depois, totalmente sem graça. A sensação foi a de pegar mais um filho no colo. Chorei de emoção e abracei minha filha. Naquele momento, a perdoei de tudo que ela havia me feito, do fundo da minha alma. Quando tiveram alta, trouxe os dois comigo para minha casa para cuidar dos dois.
Depois de um mês, mãe e filho foram para casa. No papel de mãe e avó coruja, eu os visitava lá todos os dias e nossa convivência passou a ser natural. Eles fingiam que nada aconteceu e eu, idem. Ficava com o David direto para eles saírem. Sempre deixei claro para os dois que a felicidade dela era a minha também e que eu não tinha o menor interesse mais no Eduardo – embora ainda o amasse.
Enquanto nos acertávamos, os fofoqueiros de plantão da nossa rua não nos davam uma trégua. Perguntavam até se éramos um trisal, mas agíamos de forma bem natural.
A relação dos dois não foi muito adiante, como já se esperava. Após oito meses morando juntos, se separaram. Nathália logo conheceu um outro rapaz e, rápida como só ela, já foi morar com o cara. Eduardo também logo já se arranjou com outra mulher.
Tempos depois, conheci o Marcelo via internet. Ele morava em Araucária, no interior do Paraná. Ficamos nos falando durante seis meses, e ele me chamou para viver na cidade dele. Decidi, então, ir atrás desse amor. Merecia ser feliz. No dia 15 de dezembro de 2013, peguei um avião com meus dois filhos menores e me mandei para o Paraná. Meu neto ficou morando com a mãe. Um ano depois, me casei na igreja com Marcelo. Nathália e David foram até o Paraná para a festa e decidiram não voltar para o Rio.
Hoje, Nathália está com 27 anos, já tem três filhos e se casou novamente. Meus outros filhos, Jessica e Lucas, de 19 e 18 anos, também se mudaram para cá. Tenho cinco netos e sou uma avó superparticipativa. David está com 10 anos e, junto aos demais netos, é o grande amor da minha vida.
Fiquei casada com Marcelo por dois anos. Estava com 38 anos quando me divorciei. Nove meses depois, conheci José que, há quatro anos, me faz a mulher mais feliz do mundo. Enfim, depois de tantas relações frustradas e desgastantes, conheci o amor de verdade. Não escondo absolutamente nada dele, e nunca fui julgada.
Até hoje, muitos me perguntam como é a minha relação com minha primogênita. Ela nunca me pediu perdão e nós nunca tivemos uma conversa sincera sobre tudo que rolou conosco. É como se tivéssemos apagado esse assunto. Só sei que quem mais sofreu nessa história maluca toda foram meus dois filhos menores que tratavam Eduardo como pai — Jessica tinha 8 e Lucas 7 anos quando descobri a traição. Eles ainda guardam uma mágoa enorme por tudo que a irmã fez comigo. Mas, para mim, todos estão perdoados. Uma mãe é capaz de perdoar tudo, de passar por cima de tudo por um filho. Todas as minhas atitudes foram pensando na felicidade deles. Passaria por tudo isso novamente, se preciso fosse, só por saber que depois veria o sorriso mais lindo do mundo.
O do meu neto David.”
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