Informação adequada é fundamental para auxiliar gestantes na escolha pelo parto normal

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Ana Carolina Lopes Blonkowski, é médica ginecologista e obstetra da Clinica Neo em Corumbá / Foto: Erik Silva
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  • Post publicado:26 de junho de 2019

Em um tempo marcado por uma “epidemia de cesáreas”, tem se observado cada vez mais, mulheres que nadam contra essa maré em busca de vivenciar as emoções e sensações únicas que é trazer uma criança ao mundo através do parto normal.

Apesar do estímulo feito pelo Ministério da Saúde com ações de incentivo ao parto normal e redução de cesáreas, a rede pública brasileira é reconhecida mundialmente como uma das que mais realizam partos através de intervenções cirúrgicas que chegam representar, segundo a Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a 84.6% dos nascimentos no Brasil, quando o recomendado pela Organização Mundial de Saúde é 15%.

Segundo a obstetra Ana Carolina Lopes Blonkowski, a escolha pelo parto normal traz imensos benefícios tanto para gestante, como para o bebê, mas ressalta que todo processo deve passar inicialmente pelo pré-Natal para definição da melhor via do parto.

“É muito difícil de dizer que uma paciente não está apta para a ganhar o bebe de parto normal, tudo é resultado de um pré-natal bem feito e com o acompanhamento necessário para garantir dentro das condições clinicas da paciente, a melhor opção”, destaca.

“O parto normal tem inúmeros benefícios ao ser comparado com a Cesárea, apesar de ser um procedimento que salve vidas, especialmente quando é bem indicada. Mas o incentivo do parto normal é importante pelos benefícios que traz tanto para mãe quanto para a criança, como por exemplo, um menor risco de hemorragia pós-parto e condições melhores para o bebê através de um parto normal bem assistido do que em uma intervenção marcada fora de trabalho de parto”, ressalta.

Ana Carolina destaca também que mesmo se o parto em vias de Cesárea ocorrer aparentemente tranquilo para mãe, a intervenção pode trazer um grande desconforto para a criança.

“A cesárea marcada, aquela que é feita com dia e hora escolhidos pela paciente e pelo médico, pode acarretar um desconforto respiratório para o bebê, já que a criança não estava preparada para o nascimento e não foi o momento que ela escolheu para nascer. Durante o parto normal ocorre o término da maturação pulmonar e assim o bebê nasce com o pulmão muito mais fortalecido.”, destacou.

Dor do Parto e Pós-operatório

parto adequadoOutro benefício que o parto normal traz de vantagem sobre a realização de Cesária, se deve ao processo do pós-operatório. A intervenção cirúrgica trás uma maior probabilidade do risco de ocorrer trombose na puérpera já que necessita de um maior período de repouso o que pode comprometer o processo de coagulação.

“A gestante que passa por um parto normal muitas vezes fica mais deitada, caminha menos, diferentemente do parto normal em que a mulher tem uma recuperação muito mais rápida”, destaca a obstetra reforçando ainda que no parto por Cesárea existe o risco da mulher sofrer com dor crônica, risco de infecção na ferida operatória, além de criar dificuldades na realização de outro parto em caso de um novo filho pelo mesmo procedimento.

Um dos maiores “medos” das gestantes quando iniciam o planejamento para realização do parto, é sem dúvidas, referente a dor no momento de dar à luz. Para a especialista, a forma como as opções são apresentadas para mulher que inicia o pré-natal, por muito tempo contribui para formação desse pré-julgamento.

“Na verdade, a opção de se fazer uma Cesárea como forma de fugir das dores de parto, é uma maneira de prorrogar e substituir a dor, sendo que fazer o parto por uma intervenção cirúrgica além das complicações, traz também dores que serão sentidas no pós-parto e ainda tendo que cuidar de uma criança recém-nascida. Mas essa abordagem e forma de apresentação, depende de um pré-natal bem feito, de se apresentar à gestante uma forma mais adequada de dar à luz e deixando sempre prevalecer, em primeiro lugar, a vontade da gestante e acima de tudo a segurança da mãe e do bebê”, contou.

Humanização

A humanização também diz respeito à assistência dada às mulheres. Isso explica por que os partos humanizados não seguem regras pré-estabelecidas, com exceção daquelas que fazem parte do plano organizado pela gestante desde que elas não coloquem em risco a vida da mãe ou do bebê. Embora o parto humanizado seja livre de regras, não deixa de seguir determinados propósitos tendo por base três pilares; o protagonismo da mulher, a medicina baseada em evidências científicas para oferecer a melhor opção à gestante e uma equipe Inter e multidisciplinar no atendimento.

“O parto humanizado abrange boas práticas para que a gestante passe por esse período que é algo fisiológico e natural de uma forma que não seja traumática como ocorria antes. Por muito tempo foi criada uma imagem de que o parto seria algo aterrorizante o que em alguns lugares infelizmente continua ocorrendo conforme relatos que vemos de diversos lugares do país”, concluiu Ana Carolina

Trabalho da Doula

doula e1561553900729Outra profissional fundamental dentro deste processo de humanização do parto é a Doula. Ela desempenha o papel de uma verdadeira assessora da gestante que começa antes do dia do nascimento do bebê, com encontros para conhecer a paciente e informá-la sobre as etapas do processo de gestação, preparação e elaboração do plano de parto. E também continua após a chegada do novo membro da família, tirando dúvidas sobre o início da amamentação e conversando sobre a experiência do parto.

“A Doula é uma profissional muito importante para o trabalho de parto, mas ela não faz parto, ela acompanha o trabalho de parto junto com a gestante, existe inclusive leis que apoiam o acompanhamento da Doula durante o nascimento. Por enquanto nós ainda não vemos isso na prática com os pacientes do SUS, mas acredito que isso se torne uma tendência, inclusive em agosto está previsto a realização de um curso para formar novas Doulas aqui em Corumbá. É essa profissional responsável por acompanhar toda parte emocional e física da gestante durante o trabalho de parto, já com um acompanhamento anterior feito durante o pré-natal, criando um vínculo com a paciente, esclarecendo todos procedimentos, apresentando vídeos e capacitando a gestante para chegar bem instruída, e isso é algo crucial para o trabalho de parto ser bem sucedido”, afirmou.

Confira os principais benefícios na escolha pelo parto Normal

Benefícios para a gestante:

  • Há possibilidade para aliviar a dor durante o trabalho de parto e na hora do parto: massagens, banhos no chuveiro, música, entre outras técnicas de relaxamento ajudam a futura mamãe a ficar mais tranquila, pois dessa forma, a mulher ficará mais segura e sentirá menos dor.
  • Alimentação livre: no parto normal, não existe a necessidade de suspender a alimentação da mulher. A alimentação deve ser oferecida de uma maneira natural, com alimentos leves e saudáveis e que ofereçam energia.
  • Menor exposição aos riscos de uma cirurgia: diminui a chance de infecção e efeitos colaterais do anestésico e dos medicamentos utilizados.
  • Liberdade para a posição de parto e para caminhar: durante o trabalho de parto e na hora do parto, a mulher tem a liberdade para escolher qual posição fica mais confortável para ela. Dessa forma, há menos dor e menos necessidade de realização de cortes na vagina. Já as caminhadas, que também são estimuladas nesse momento, junto a um acompanhante escolhido pela própria mulher, auxiliam e tornam mais rápido e fácil o trabalho de parto.
  • Melhor adaptação ao pós-parto: diferentemente da cesárea, no parto normal a mulher não terá nenhuma ferida pós-operatória, nem sentirá dor decorrente de cirurgia, ou dificuldade para se movimentar, até mesmo para cuidar do bebê.

 Benefícios para o bebê:

  • Menor risco de doenças respiratórias e de bronco aspiração, que é quando há a passagem das secreções do parto para o pulmão do bebê.
  • Menos intervenções feitas junto ao bebê, como por exemplo, aspiração com sonda, da boca, nariz e traqueia, e também diminuição dos riscos relacionados a cirurgias.
  • No parto normal, a amamentação pode acontecer logo após o nascimento. O leite materno, nesses casos, não sofre as ações dos agentes anestésicos e dos medicamentos utilizados no pós-operatório da mãe. Outro benefício da amamentação é que ela auxilia no fornecimento de anticorpos e hidratação, proporcionando menores riscos de hipoglicemia, diarreias e desidratação ao bebê.

Contribuiu para reportagem a médica ginecologista e obstetra Ana Carolina Lopes Blonkowski da Clínica Neo – Rua Sete de Setembro, 832 – Centro de Corumbá – Fone: (67) 3231-6213.