Um aplicativo que traduz o português para a língua brasileira de sinais, a libras, foi um dos 20 vencedores de um concurso mundial do Google.
O Hand Talk, criado em 2012 e que já foi baixado mais de 2 milhões de vezes, segundo os proprietários, agora vai dividir o investimento de US$ 25 milhões com os demais projetos selecionados. E também receberá orientações de especialistas em inteligência artificial da gigante de tecnologia.
O aplicativo, que é gratuito, realiza cerca de 25 milhões de traduções de palavras mensalmente, com intenção de ajudar quem não conhece a língua a se comunicar com surdos.
A ferramenta, disponível para smartphones Android (Google Play) e iPhones (App Store), conta ainda com um dicionário em 5 disciplinas escolares e com “videoaulas” temáticas, que ensinam sinais associados a termos de informática, instrumentos musicais, supermercado, etc. Só há cobrança para deixar de ver propagandas (R$ 7,90).
PROJETO DE FACULDADE
Por trás do app estão um arquiteto, um analista de sistemas e um publicitário, todos de Maceió. Na frente, está o Hugo, avatar 3-D que mostra em libras as frases em português faladas ou digitadas no celular.
O Hand Talk nasceu quando um dos sócios ainda estava na faculdade e deu origem à empresa de mesmo nome.
Além do aplicativo, eles oferecem tradução em libras para conteúdos de sites comerciais e institucionais, como o da Prefeitura de São Paulo, o que sustenta financeiramente a startup.
Dois dos sócios, Thadeu Luz e Carlos Wanderlan, ambos de 36 anos, demonstraram o app no encontro anual do Google com desenvolvedores em Mountain View, na Califórnia, cidade-sede da companhia, na semana passada.
Agora, começam um “intensivão”: vão passar mais uma semana por lá, onde conhecerão um mentor para decidir os próximos passos e definir metas. Eles também poderão participar de um programa de 6 meses para aceleração de startups.
GIGANTESCO BANCO DE SINAIS
Por enquanto, a comunicação no Hand Talk acontece em uma só “via”: da oral/escrita para os sinais.
O próximo desafio, que eles esperam vencer com os incentivos do programa do Google, é muito mais complicado: fazer a comunicação na “mão” contrária, ou seja, criar um sistema que capte os sinais em libras e os traduza em frases do português.
Não basta só ter uma câmera que capte os gestos. Thadeu Luz explica que é preciso montar um vasto e detalhado banco de dados de sinais para que o aplicativo consiga dar um “match” com o que for captado pela câmera.
Como a libras não tem grafia, ou seja, não é escrita, todo esse banco de dados tem que ser criado em vídeo.
“Para criar um modelo, a gente vai precisar de muita quantidade de vídeo, e eles têm que estar bem etiquetados, com a descrição de cada sinal, em cada momento em que ele está sendo realizado”, detalha Luz. “E aí você treina o modelo, em inteligência artificial, e possivelmente ele terá um resultado bom.”
Outro desafio é estender o serviço para surdos que usam outras línguas de sinais, que não a brasileira.
“Existem mais de 200 línguas de sinais no mundo todo”, explica Carlos Wanderlan. Mesmo dentro da libras há regionalismos, lembra ele.
Segundo o IBGE, 9,7 milhões de brasileiros são surdos ou têm deficiência auditiva. A libras foi oficialmente reconhecida como uma língua brasileira em 2002.
Todos os projetos selecionados no programa inédito do Google usam inteligência artificial para fazer o bem: as finalidades vão desde o controle de pragas na agricultura à melhoria de relacionamento entre pais e professores.
Ao todo, ideias de 119 países concorreram. O aplicativo brasileiro e um colombiano são os únicos representantes da América Latina entre os 20 vencedores; 9 são dos Estados Unidos.